quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

SOBRE O MASSACRE NA ESCOLA NORTEAMERICANA

Será necessário um imenso esforço das ciências sociais para compreender as causas dos constantes atentados praticados por certas pessoas, a tiros, em locais de concentração populacional, como escolas, hospitais, festas e salas de cinema.
A psicologia, a psiquiatria, a sociologia, a antropologia e até a filosofia têm dado suas próprias explicações para o fenômeno.
Busca-se, em primeiro plano, estabelecer um axioma: a ideia de que existe uma explicação comum aos diversos fatos assemelhados. Assim, a escola em Columbine, o Batman do Cinema, o Papai Noel e o recente atentado, além de outros, poderiam ter uma mesma causa, ou ter um sentido comum em si. Qual seria ele? 
A sociedade moderna e suas pressões sociais por aceitação, o bulling, violência na infância, a facilidade de obtenção de uma arma de fogo, são algumas das tentativas dos especialistas de fornecer explicações a esses fatos. 
Tão logo isso acontece, programas de televisão são produzidos com pessoas sentadas à mesa discutindo as possíveis causas. São ouvidos psicólogos, psiquiatras, sociólogos e antropólogos. 
E, aparentemente, todas as vezes que o fenômeno se repete, sobrevém uma frustração com as explicações fornecidas anteriormente, uma frustração com a nossa incapacidade de evitar ou de prevenir essas tragédias. E isso nos assusta. Por algumas razões. A primeira delas é que não conseguimos a tempo sequer antever quando ou onde isso vai acontecer. Nesse particular, provoca o mesmo efeito que os atentados terroristas. A segunda razão é que o agente que comete tais atos é, em regra originário do próprio meio onde se localizam as vítimas. O aluno ou ex-aluno da escola, por exemplo. A terceira razão é que não há sequer um perfil dos autores desses atos, que nos permita manter-nos “protegidos” espacialmente deles. Não são delitos praticados por uma certa classe social específica, por um grupo étnico, religioso, por certos profissionais ou por indivíduos que já tenham algum tipo de histórico delitivo, em uma palavra: podem partir de qualquer um, de um colega de trabalho, de um familiar, de um fiel da mesma congregação, de um colega de escola.
Esse medo pode demonstrar que a abordagem científica até aqui experimentada esteja equivocada, porque o que se pretende não é tanto a compreensão do fenômeno, mas sim a sua prevenção, a redução dos riscos de sua ocorrência.
Então, que abordagem utilizar? Pode ser ainda mais frustrante o que vem a seguir, mas a verdade nem sempre é tranquilizadora: reconhecer que no universo de qualquer grupo humano, seja de que classe, etnia, religião, categoria profissional ou seja lá que classificação das pessoas se adote, há um incontrolável percentual de indivíduos, no emaranhado de complexas relações sociais e diversidade genética existentes, que cometerão atos abomináveis, seja tomando voluntariamente essa decisão, seja por razões patológicas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas, isoladas ou combinadas entre si.
Sim, é decepcionante. E que outro sentimento possuímos quando vemos na televisão esse tipo de coisa? O ser humano nos decepciona todos os dias…
Israel Nunes é procurador federal e professor universitário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário