quinta-feira, 25 de outubro de 2018

SONDADO, AYRES BRITTO DESCARTA PARTICIPAR DE EVENTUAL GOVERNO BOLSONARO

Sondado para o Ministério da Justiça em um eventual governo Bolsonaro, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto afirmou que não aceitaria o cargo.
Em entrevista à Folha, o jurista disse não ter “condições psicológicas” para ocupar novamente um cargo público “ortodoxo”.
“Eu recebi há dias um telefonema de um amigo que me disse ser muito próximo do general Hamilton Mourão e que os dois, conversando, ventilaram meu nome como algo desejável. E eu dei a mesma resposta que dei ao presidente Michel Temer, um amigo meu de tantos anos. Quando o presidente me convidou para o cargo, eu agradeci, mas disse a ele que infelizmente não aceitaria. Eu saí do Supremo com a cabeça de juiz e só sei ver as coisas por um prisma suprapartidário”, declarou.
Ele classificou como “sombria” a atual situação do país, mas afirmou crer que a democracia está blindada de qualquer eventual tentativa de “liquidá-la”.
“A gente tem a clara impressão de que cada corrente majoritária vê a outra como signo não de um projeto de governo, mas de poder. Projeto de poder é de conteúdo secreto. Não diz para o grande público o que quer fazer quando chegar ao poder e quer chegar ao poder para ficar nele por muito mais do que quatro anos. Agora, juridicamente, o quadro é mais alentador. A Constituição dispõe de antídotos contra projetos de poder. A democracia se blinda eficazmente de qualquer tentativa de desnaturá-la e, mais ainda, de liquidá-la”, declarou Ayres Britto.
O ministro ainda disse que a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte no momento é “flertar com o abismo”.
“Quando se convoca uma Assembleia Constituinte? Quando a Constituição em vigor já deu o que tinha de dar e está com o pé na cova. [Quando] As instituições nascidas à luz dessa Constituição entraram em colapso cardíaco e padecem de falência jurídica múltipla. É esse o pressuposto psicossocial e político da convocação de uma Assembleia Constituinte. Agora, isso não existe, a atual Constituição fez 30 anos agora, é muito nova e está na plenitude de seu vigor”, defendeu.
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